Guillermo Federico Piacesi Ramos, 8/1/2022
O Inferno é a primeira parte da obra Divina Comédia, de Dante Alighieri (as outras duas são o Purgatório e o Paraíso).
Ela está dividida em trinta e quatro cantos. Para quem não é familiarizado com a obra dantesca, destaco, rapidamente, que os cantos são longas poesias, onde a primeira linha de uma estrofe rima com a terceira (a isso se chamou “terza rima”).
O inferno é descrito por Dante como um local com nove círculos de sofrimento, localizados dentro da Terra. Em cada círculo tem um certo tipo de pecador.
O que importa aqui nesse texto é o 9º círculo: lá estão os traidores. É o local a eles destinado.
Transcrevo a seguir um pequeno trecho do Canto XXXIV, o último da primeira parte da obra. Prestem atenção na cadência e no ritmo do texto, que belo que é.
——
(…)
“Qual moinho, com dentes truculentos
Cada boca um prexito lacerava:
Padecem três a um tempo assim tormentos.
Mas ao da frente a pena se agravava,
Porque das garras o furor constante
Do dorso a pele ao pecador rasgava.
“O que esperneia em dor mais cruciante”
O Mestre disse: “É Juda Iscariote:
Prende a cabeça a boca devorante.
“Dos dois, que estão pendendo, coube em dote
A negra face Bruto: sem gemido
Se estorce da dentuça a cada bote.
“O outro é Cássio, de membros bem fornido.
Mas a partir a noite insta, assomando:
Aqui já tudo havemos conhecido”.
Do Mestre o colo enlaço por seu mando.
Ele em lugar e tempo apropriado,
De Lúcifer as asas se alargando,
Ao peito hirsuto havia-se agarrado;
Depois de velo em velo descendia
Entre os ilhais e o lago congelado.
Chegado àquela parte, em que se unia
Da coxa o extremo dos quadris à altura,
Com grande ofego e mor abalo o Guia
Pôr a fronte onde os pés firmou procura,
Como quem sobe às crinas agarrado:
Assim tornar cuidei do inferno à agrura.
“Segura-te! Por tais degraus alado
Lasso Virgílio já disse anelante,
“Deste império do mal serás tirado”.
(…)
(A Divina Comédia, Inferno, Canto XXXIV)
——
O canto traz 3 figuras em sofrimento nas mão de Lúcifer por suas traições: Judas Iscariotes (que dispensa apresentações), e Bruto e Cássio, os conspiradores que organizaram o assassínio covarde de Julio Cesar, em Roma.
No final do canto, Dante e o poeta Virgílio, a quem ele chama “Mestre”, saem do inferno e seguem na sua jornada medieval.
Mas aqui, repito, o que vale ser destacado é o tratamento dado aos traidores. Para Dante, eles vão para o inferno. E o autor descreveu com precisão o local a eles destinado.
Eu concordo com o escritor italiano. O local para os traidores é o inferno mesmo. E certamente tem muito mais gente lá no 9º círculo do que os mostrados por Dante (lembremos que a obra foi escrita no Século XIV).
Nesse particular, falemos do Brasil. Tem muitos aqui que entram na política e que quando partirem dessa para uma pior certamente serão levados direto, sem escalas, para o local descrito por Dante.
Veja-se o caso de um certo ex-juiz, que acha que pode ser eleito Presidente da República na base da traição a tudo e a todos. Definitivamente, se tem uma coisa que o brasileiro não aceita é traição.
Muitas pessoas comuns país afora podem nem saber o que é o 9º círculo descrito por Dante, mas sabem, efetivamente, o fim que o traidor tem!
Daqui a 10 meses nós veremos a consequência dessas traições.
(IMAGEM: ilustração de Gustav Dore, Inferno, Canto 34).